Heróis já estão em Casa

Os nossos heróis chegaram a casa. Os 24 magníficos que fizeram de Portugal a quarta melhor equipa do Mundo tiveram uma recepção apoteótica, sentindo uma vez mais na pele o reconhecimento de um país que durante um mês viveu noutro mundo que não o real. Na zona exterior do Aeroporto da Portela cerca de duas mil pessoas aguardavam o avião de todos os sonhos. Que tocou na pista às 13h15, com uma bandeira de Portugal a sobressair da janela do cockpit do “Florbela Espanca”, nome do aparelho da TAP.
Já na pista, o avião da selecção nacional passou por entre jactos de espuma vermelha e verde amarelada, em forma de jacto, que saíram das mangueiras de dois carros de bombeiros. Uma surpresa preparada pela administração do aeroporto e que provocou um belo efeito.
Oito minutos depois as portas abriram-se. Luiz Felipe Scolari foi o primeiro a sair do avião, acompanhado de Eusébio. Pouco depois os jogadores, com Costinha à cabeça. Os funcionários do aeroporto foram os primeiros a saudar os heróis da Alemanha. Pouco depois saíram todos em direcção ao autocarro da Federação Portuguesa de Futebol, mas não sem antes passarem por uma zona onde tinham sido colocados tapetes de relva. “Continuem a pisar a relva, p.f.”, lia-se num cartaz estrategicamente colocado. Foi o delírio das cerca de duas mil pessoas que aguardavam os jogadores portugueses.
O percurso até ao Estádio Nacional demorou quase 30 minutos e foi verdadeiramente surpreendente a moldura humana que rodeou a selecção: milhares de automóveis seguiram o autocarro português, centenas de motards juntaram-se à caravana e do outro lado da Segunda Circular filas e filas de alguns quilómetros de veículos parados para saudarem os jogadores portugueses. Foi uma recepção apoteótica, esta que a população portuguesa quis fazer à equipa que os obrigou a sonhar. E se Portugal tivesse sido campeão mundial, como seria?
Já no Estádio Nacional, onde estavam cerca de dez mil pessoas – as elevadas temperaturas que se faziam sentir talvez ajudem a explicar as muitas cadeiras vazias –, a equipa portuguesa foi recebida em delírio. Os jogadores associaram-se à festa, empunharam bandeiras, cachecóis, mas também entraram na brincadeira. E para além dos muitos cânticos que entoaram juntamente com os adeptos – Boa Morte foi um dos animadores de serviço, entoando ao microfone “Ié, ié, ié, Portugal é que é” – muniram-se dos instrumentos musicais que pertenciam ao grupo “Corvos” e começaram a fazer o seu próprio número. Figo ficou na bateria, Jorge Andrade com o microfone, Pauleta com o violino, Petit com o violoncelo e Simão com as teclas.
De frente para uma faixa colocada no relvado, que dizia “Obrigado Portugal”, os jogadores fizeram a festa. Figo, em nome de todo o grupo, agradeceu o apoio e reforçou o orgulho de todos em serem portugueses, enquanto Scolari prometeu que na próxima competição Portugal “vai tentar ser segundo e até primeiro”, isto perante os gritos dos portugueses, que pediam a continuidade do brasileiro à frente da selecção portuguesa.
A festa acabou pouco depois de todos cantarem “A Portuguesa”, curiosamente numa versão com sotaque, porque o cantor de serviço foi Roberto Leal. A procissão continuou até ao hotel para onde toda a comitiva se dirigiu, um pouco antes das 14h30. Acabou mesmo. Agora é a desmobilização. Dos adeptos e dos jogadores, que já entraram num período de merecidas férias.

in Gestifute