CR em entrevista exclusiva ao site da Gestifute

Há bem mais de um mês que esta família que é a selecção nacional está junta. Este é um grupo fantástico, no qual o Jorge Andrade se integra de uma maneira especial, porque é muito divertido, porque alimenta muitas das nossas brincadeiras e ajuda a fortificar o espírito de união deste magnífico grupo. Para os mais curiosos, ficam a saber que, quando não estamos a trabalhar, passamos o tempo a jogar às cartas ou então bingo, jogámos matraquilhos e cantamos com a ajuda do karaoke. Quem ganha mais vezes? É dividido…Ainda antes do início do estágio realizado em Évora dei uma entrevista, por acaso à Gestifute Media, na qual disse que acreditava no título Mundial. Viemos para a Alemanha. Passaram-se cinco jogos. Estamos a caminho do sexto, que é a meia-final. Se tinha essa convicção ainda antes de o Campeonato do Mundo, então o que direi agora, quando faltam apenas dois, é isso mesmo, dois jogos para o sonho ser concretizado? Acreditava e continuo a acreditar. Muito.O jogo com a Inglaterra foi intenso e por várias razões. Tinha passado uma semana inteirinha sem treinar, só a fazer tratamento à minha perna, depois daquela entrada a matar que sofri no jogo com a Holanda. Mas mesmo assim estava confiante. Tal como todos os meus companheiros, acordei cedo para tomar o pequeno-almoço. A seguir fiz tratamento, o inevitável tratamento. Depois de um pouco de descanso e de um período de convívio entre todos, almoçámos e de seguida assistimos à palestra de preparação do jogo que dali a nada iria começar. Fazia parte das escolhas iniciais do treinador e a verdade é que, apesar de não ter feito praticamente trabalho de campo, sentia-me bastante melhor e muito confiante em jogar e ajudar a equipa a ultrapassar mais este obstáculo. Confesso que sempre acreditei numa boa exibição e na nossa vitória.

FRIOZINHO NO ESTÔMAGO PASSOU COM O APITO DO ÁRBITRO

Chegámos ao estádio. O ambiente no nosso balneário era muito tranquilo. Conversámos uns com os outros, jogámos futevólei na cabina para descontrair e para o tempo passar um bocadinho mais rápido. Faltava sensivelmente uma hora para o jogo começar. No túnel encontrei alguns jogadores ingleses e meus companheiros de equipa do Manchester United, como Gary Neville, Rio Ferdinand e Wayne Rooney. Conversámos amistosamente, nem outra coisa poderia acontecer. Mas sem brincadeiras nem palhaçadas. Desejámos boa sorte uns aos outros e voltámos todos para os balneários.O estádio estava bonito. Vi muitos ingleses na bancada, muitos assobios, muito calor, uma atmosfera muito bonita. Enquanto estive no balneário tudo muito tranquilo. Quando começou o aquecimento, confesso, comecei a sentir um friozinho no estômago, um nervoso miudinho que desapareceu completamento quando o árbitro apitou para o início do jogo.Que começa. A minha perna está a portar-se bem, a equipa também. Jogámos bem ao longo dos 90 minutos e também no prolongamento Portugal foi melhor. Na segunda parte a perna começou a inchar, o sangue voltou a acumular-se. Comecei a sentir muitas dificuldades, porque não me sentia a cem por cento. Mas nunca me passou pela cabeça pedir para sair. Não! Tinha de aguentar e tinha de ficar até ao fim, porque sentia que, mesmo com algumas limitações físicas, tinha possibilidades de ajudar. Por isso aguentei a dor até ao fim. Quando o jogo foi para prolongamento tinha um pressentimento de que iria tudo ser resolvido nos penáltis. E eu queria marcar o penálti. Gosto de marcar penáltis. Quando estava a decidir-se a ordem dos marcadores pedi ao mister para ser o último. Porquê? Porque é verdade que gosto de assumir responsabilidades, mas também porque tinha um forte pressentimento de que iria ser eu a resolver o jogo.Assisti a todos os penáltis de frente. Desde o início que estava confiante e muito optimista na nossa equipa. Obviamente que também tinha muita confiança no Ricardo. Durante a semana ele tinha estado muito bem nos treinos, quando ensaiámos os penáltis, e antes da partida fui ter com ele e disse-lhe que iria ser ele a resolver o jogo. Foi o que aconteceu. É verdade que quando falhámos dois remates fiquei um bocadinho preocupado. Mas depois o Ricardo tratou do resto.Chegou a minha vez. Tal como tinha previsto, era o penálti decisivo. Estava muito confiante. Peguei bola, dei-lhe um beijinho, sorri e concentrei-me exclusivamente em rematar forte e colocado para um lado. Juro que naqueles segundos não pensei em rigorosamente mais nada. Apenas em colocar a bola num lado. Consegui. Foi uma grande alegria. As pessoas perceberam que olhei para o céu e disse “Tu aí”. É verdade, dediquei aquele penálti decisivo ao meu pai, porque sei que ele gostaria muito de ter estado presente a assistir àquele momento. E também a algumas pessoas que sempre estiveram ao meu lado e que sei que gostam muito de mim. Foi um momento de grande felicidade.

O MEU PALPITE É QUE VAMOS GANHAR À FRANÇA

Estávamos na meia-final do Campeonato do Mundo, mais um passo em direcção ao sonho que todos nós acalentamos. Claro que festejamos muito. Nós aqui, na Alemanha, vocês aí, em Portugal. A viagem de regresso correu naturalmente bem e com grande alegria. A verdadeira festa, se assim lhe podemos chamar, aconteceu já em Marienfeld, num restaurante da cidade, com um jantar em que toda a gente do staff da selecção esteve presente. Convivemos todos, jantamos, ouvimos música, ficámos acordados até um bocadinho mais tarde. Foi divertido.O trabalho voltou ontem e continuará, porque temos a França à nossa espera. Gostava de defrontar o Brasil, porque iria ser um jogo totalmente português, mas não foi possível. É a França que vamos defrontar e tenho a certeza que será um grande espectáculo. O meu palpite é que vamos ganhar. Com golos meus ou dos meus companheiros. Até agora só marquei através de grande penalidade. Mas continuo a acreditar que ainda vou marcar de outras formas. Neste momento, estou com gelo na perna. Vou continuar com o meu tratamento. Porque na quarta-feira há mais um jogo. E garanto que vou estar pronto para mais este desafio.

P.S. Foram ditas barbaridades sobre mim e o meu companheiro (do Manchester United) e amigo Rooney. Como é possível dizer que fui eu que ajudei a expulsá-lo? Eu não sou árbitro para ter poderes para expulsar quem quer que seja, nem tão pouco tenho moral para o convencer a mostrar cartões. O árbitro mostrou-lhe o cartão vermelho porque considerou que o devia fazer e a minha participação nisso foi absolutamente nula. Gostava, também, de deixar bem claro que entre mim e o Rooney não existe qualquer tipo de problema. Insisto: nenhum tipo de problema.

No final do jogo, trocámos uma série de mensagens por telemóvel e já durante o dia de ontem também. Isto para reforçar que tenho uma relação óptima com Rooney. Entre nós os dois está tudo esclarecido. Aliás, ele não só me deu os parabéns por seguirmos em frente no Mundial, como me disse que temos uma grande equipa, para continuarmos assim que chegaríamos longe. Ele não estava zangado comigo, nem nada que se parecesse. E mais: disse para ignorar o que foi escrito na Imprensa inglesa a este propósito, que eles só querem arranjar confusão. É o costume… Tanto ele como eu já estamos habituados. Por isso é que surgiram declarações como se fossem dele, a dizer que não queria voltar a jogar comigo no Manchester. Ai não que não quer! Claro que quer! Isso é absolutamente falso, como ele próprio fez questão de me dizer. Enfim, coisas típicas dos jornais ingleses, a que já nos acostumámos. Que remédio… Garanto que não é isso que me tira o sono.

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